Capa do livro Fatos e Tendências em Eventos (organização de Andrea Nakane)Em 2012, recebi o convite de escrever um capítulo de livro relacionado aos 5 sentidos fundamentais e eventos, Fatos e Tendências em Eventos, organizado por Andrea Nakane. Deste desafio saiu o artigo Eventos Esportivos – Sentidos Florados.

Deixo aqui para vocês a primeira parte do artigo, como um aperitivo, o restante está no livro, que você pode comprar aqui.

Eventos Esportivos – Sentidos Aflorados

O Esporte por si só consegue conglomerar muitas emoções. Nos eventos esportivos estas sensações afloram espontaneamente ou podem ser estimuladas compondo todo uma atmosfera cênica. Esse conglomerado de sentimentos devem ser percebidos, respeitados, estimulados e aproveitados, ainda mais por quem organiza estes eventos.

Para que possamos discutir os Eventos Esportivos e seus sentidos aflorados sugiro uma metáfora com os 05 elementos da cultura japonesa, mais específica de Miyamoto Musashi, um famoso Samurai, que discorreu sobre 05 elementos/05 anéis como fundamentais para a arte de vencer Samurai.

Aqui, emprestamos estes itens, para que possamos vencer na arte de construirmos eventos esportivos de sucesso; assim nossa discussão ocorrerá de maneira figurada. Vamos discutir o que seriam os elementos – Fogo, Terra, Água, Vento, Vazio – para os eventos esportivos:

Fogo – As Sensações

“- Seu ticket por favor”
– Claro, aqui está”

Depois de ser revistada, os olhos brilham com o palco gigante, com as pessoas diferentes, com todos vestidos de branco e com um novo Maracanã. Essas são minhas primeiras lembranças do Pan Americano-Rio 2007; em sua abertura, muito mais do que um evento esportivo, lá estava acontecendo uma catarse patriótica, um espetáculo de entretenimento, oportunidades promocionais, uma vivência emocional muito além da dimensão esportiva.

Os eventos esportivos ocorrem na grande maioria das vezes para reunir os aficcionados de certa(s) modalidade(s), para verificar a performance dos competidores; estes podem ocorrer também para a simples apresentação dessa performance sem competição entre outros. Dentro disso, geralmente o evento esportivo é iniciado através de uma solenidade de abertura, com a presença de autoridades, com várias etapas protocolares. Já durante as competições, as conquistas são materializadas com flores (coroa de flores), com medalhas (ouro, prata e bronze – metais preciosos) e um troféu – símbolos que indagam aos atletas uma condição de deuses ou semi deuses que tem uma tradição desde a era clássica nos Jogos Olímpicos. Este ritual é vivido pelos atletas – que sobem ao podium como “atores” principais e os espectadores – que da platéia , atuam como coadjuvantes e emitem sua alegria com aplausos calorosos, as vezes vaias, mas atuando também.

Ao término do evento, ocorre uma solenidade de encerramento, com um resumo do que aconteceu e já indicando onde ocorrerá a próxima versão – criando assim uma expectativa e atuando como teaser.

O caldeirão de sentimentos existentes nesses momentos, são estimulados e gerenciados por ações específicas que ocorrem no evento, tais como: reprise no telão da emoção do atleta com a bandeira, animadores de torcida, separação de áreas por nacionalidade, entre outras. A logística deve estar atenta à essas possibilidades.

Os eventos esportivos também reúnem pessoas que se identificam por mesmos interesses, onde se tem a oportunidade de encontrar pessoas que tem afinidades com relação aquilo que lhe agrada, satisfaz, te representa. Por exemplo, no Desafio Salonpas , os espectadores vão assistir ao voleibol e lá encontram pessoas que gostam desta modalidade esportiva, ou jogaram, ou jogam, ou acompanham, e tem uma postura similar ao torcerem, ao entoarem cânticos, ao vestirem mesmas camisetas, ao admirarem certos ídolos; enfim existe uma relação com aquele espetáculo esportivo. Interessante observar que o local dos eventos esportivos – as arenas costumeiramente seguem uma hierarquia de assentos que identificam-os em setores/ castas (geral, arquibancada, numerada, cativa, camarote, tribuna), mas mesmo assim durante o espetáculo esportivo isso perpassa entre as classes sociais e estes setores, e o evento atua com um papel de fixar e auto-reconhecer o indivíduo dentro do grupo como um todo. Trazendo a representação do pertencimento.

No quesito patriótico nem se fala, pois “O esporte estará representando uma sociedade em miniatura, contendo um intenso laboratório de condutas e comunicação humana” (Simões, 1998) e durante o evento esportivo posso expandir toda a minha relação com meu time, cidade, país, de maneira a “provar” minha ligação afetiva para com ele, por isso colaboro na coreografia, visto determinada cor, compro o mascote, adquiro os produtos licenciados pela marca e por aí afora.

É importante salientar, que mais do que simples participante do evento esportivo, estamos lidando com o conceito de imaginário social que os Esportes provocam. Spink (1995), ao problematizar o contexto que envolve a subjetividade, também apresenta uma definição a partir de uma perspectiva temporal. Ela aponta três instâncias: a do tempo curto, em que a funcionalidade das representações atua na práxis; a do tempo vivido, no qual o processo de socialização se serve do conceito de habitus ; e a do tempo longo, no qual predominam as memórias coletivas, onde, segundo a autora, encontram-se depositados os conteúdos cumulativos da sociedade. A esse tempo ela chama imaginário social.

O imaginário social (IS) é oriundo das produções fantásmicas e dos sonhos do sujeito, enquanto as representações sociais (RS) se originam dos dados da realidade, encaminhando ao conceito. O imaginário possibilita ao sujeito criar fantasias em torno das representações; o imaginário também caminha no mundo das crenças. “Enquanto sistema simbólico, o Imaginário Social reflete práticas sociais em que se dialetizam processos de entendimento e de fabulação de crenças e de ritualizações. Produções de sentidos que circulam na sociedade e que permitem a regulação de comportamentos, de identificação, de distribuição de papéis sociais que passa representar para o grupo o sentido de verdadeiro”. (Ferreira e Eizirich, 1994)

Daqui surgem muitas explicações relacionadas às sensações do pertencimento que relacionam-se ao fã, ao apaixonado pelo ídolo, ao torcedor fiel , do ser comum que ao torcer, ao assistir ao evento, se aproxima desta atmosfera de glamour e de superação – eu me realizo através do outro. O organizador de eventos, deve compreender essa fogueira de sensações como elementos à serem pensados na logística do evento para que as mesmas aflorem somente sob o aspecto positivo.

Alguns exemplos:

  • análise das vias de acesso de equipes oponentes para que não se encontrem;
  • reforço de situações de fair play, via telão e mídia;
  • conforto igualitário, mesmo com as dicotomias de preços em ingressos e áreas diferenciadas;
  • venda de souvenirs dos vários participantes;
  • ritualização das cerimônias de abertura, encerramento e premiação;
  • reconhecimento do conhecimento que os fãs tem de seu time e ídolos (quiz, ações de entretenimento, concursos, etc);
  • a rivalidade é benéfica ao evento esportivo, pois assim tenho mais público, mais mídia, mais interesses, elementos perfeitos para um produto que me rende mais versões, mais público, mais lucratividade. Aqui há de se tomar cuidado para que o elemento rivalidade não gere violência, e devemos zelar pela gestão da rivalidade onde oponentes insatisfeitos podem destruir instalações, incitam espectadores agressivos e que se aproveitam dos eventos para atos de vandalismos e brigas, ai deve-se ter um plano de logística de segurança que compreenda essas nuances todas.

Esse vulcão de sensações pré-parado para acontecer de forma sadia e que contribua para o espetáculo, deve ser pensado meticulosamente.

Indo para uma linha mais racional, vejamos o que o elemento TERRA pode nos acrescentar.

Para saber mais sobre os outros elementos, consulte o livro e assine nossa newsletter para receber novidades e outros artigos direto em seu e-mail.

Deixe um comentário