Lancei um desafio para a amiga Biti Averbach, fera em assuntos de moda, para “costurarmos” um artigo a 4 mãos. Ela topou e segue nossa produção final.
Desfiles de moda chamam a atenção, muitas vezes, não pelas roupas apresentadas, mas por algum elemento extravagante na passarela. É obvio que o desfile de moda é um evento organizado para expor e divulgar uma nova coleção, mas o lado conceitual tem sido fortemente explorado na tentativa de revelar a essência da grife e a inspiração do criador, ao invés de focar exclusivamente no produto como mercadoria. Quando essa estratégia é bem sucedida e cai nas graças da mídia: BINGO! É um sucesso.
Dois exemplos recentes chamaram a atenção:
- Na semana de moda masculina de Paris, o estilista Rick Owens mostrou roupas descontruídas, com golas desabadas e aberturas frontais que deixavam muita coisa à mostra dos modelos.
- Em Madrid, uma grife de bolsas femininas fez um desfile em que a nova coleção era apresentada por modelos nus, causando furor e buzz nas redes sociais.
As perguntas que ficam são:
- O choque da novidade auxiliou as marcas?
- Qual o objetivo alcançado pelos desfiles? Comentários sobre a performance ou atenção para o produto?
É preciso contextualizar a idéia de desfile, que atualmente é uma grande oportunidade para o estilista divulgar sua marca.
À partir da plateia de clientes e jornalistas de moda, as imagens e críticas sobre o evento (positivas ou negativas, profissionais ou amadoras) reverberam através da internet e das redes sociais, multiplicando-se exponencialmente. Mais do que vender produtos específicos, o importante é vender uma imagem, uma ideia.
Note que, em inglês, a palavra para desfile é fashion show (show de moda). Ao assistir a um desfile, queremos ser entretidos, mas como vivemos numa sociedade saturada de imagens e informações, os estímulos precisam ser cada vez mais potentes para nos sacudir do entorpecimento habitual. No entanto, é preciso ter critério.
A editora de moda Biti Averbach destaca que “os desfiles conceituais são bem sucedidos quando são coerentes com a marca e ajudam a contar uma história, a veicular uma ideia sobre a coleção e sobre a grife. É o caso dos desfiles de Rick Owens: o estilista tem uma linguagem visceral e artística, sofisticada e crua, e isso é reforçado em suas apresentações”.
“Já o desfile de bolsas femininas com modelos nus chama a atenção pela gratuidade da ação que parece, apenas, querer chamar atenção, ou, para usar a gíria do momento, querer ‘causar'”.
É preciso refletir: por que colocar homens nus desfilando bolsas femininas? Os homens e as bolsas seriam os objetos máximos do desejo feminino? Esse tipo de argumento soa vulgar, e até mesmo ofensivo e sexista. E mais, não acreditamos que os produtos, bolsas bastante convencionais, tenham sido reforçados por este discurso. Pelo contrário, poucos devem ter prestado atenção nelas.
O evento/desfile traz no seu DNA mostrar as roupas, focando o desejo e consequentemente a venda, mas traduzindo uma concepção. Formas inovadoras de destacar isso precisam ser perseguidas, mas com critério, afinal, parafraseando Wanda Maleronka:
“Desfiles são condutores da imaginação, criando vínculos entre o sonho e a realidade, despertando nas pessoas o desejo por aquela marca e tudo o que ela oferece.” Wanda Maleronka, 2005
Obrigada pelo convite, Líbia! Gostei muito de costurar essas ideias com você.
bjs