A 6aª edição da Copa das Confederações (que já foi chamada de Copa Rei Fahd) foi, para muitos, mais um evento cuja finalidade era gerar lucro para a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA). Por outro lado, analisando apenas profissionalmente, acredito que tenha servido como teste para a Copa do Mundo – tanto em termos de organização do evento, quanto aquecimento ou ponto de partida para que os times e a mí­dia definam suas expectativas.

Reuniram-se os oito times no paí­s anfitrião: Itália e Espanha, vice-campeã e campeã da Eurocopa, respectivamente; a campeã da Copa do Mundo de 2010, os campeões continentais e o Brasil (paí­s-sede). Os jogos ocorreram em seis cidades-sede (Rio de Janeiro, Fortaleza, Belo Horizonte, Brasí­lia, Salvador e Recife) e, das seleções participantes, quatro eram campeãs mundiais: Brasil, Espanha, Itália e Uruguai.

Trabalhei no Hospitality Center, espaço VIP da Arena Castelão.a Para quem não sabe, a arena multiuso – que hoje tem capacidade para 58.000 pessoas – teve custo total RS 518 milhões.

í‰ claro que a chegada do evento trouxe um inevitável friozinho na barriga para todos os envolvidos. Afinal, era muito grande a nossa expectativa diante da novidade, pois até mesmo profissionais e atletas mais experientes, que já haviam participado de outras competições, ainda não tinham passado por nada parecido aqui no Brasil. Nesse sentido, o nervosismo era comum a todos nós.

O olhar de um profissional de eventos na Copa das Confederações

Destaco, aqui, algumas das impressões que tive enquanto gestora e profissional de organização de eventos, brasileira e apaixonada por esportes que, durante trinta dias, esteve muito envolvida nessa história:

Infraestrutura

O Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) estima que foram gastos cerca de R$ 311,5 milhões por turistas durante os 15 dias do evento. O número leva em consideração a quantidade de turistas e o tempo de permanência nas cidades que sediaram os jogos e o cálculo é feito com base nas despesas de turistas estrangeiros (R$ 69 milhões), nacionais (R$ 172 milhões) e das seleções e delegações (R$ 70 milhões).

Para um evento-teste, que não atrai tanto interesse quanto a Copa do Mundo, são ótimos números. Agora, o que fica claro é que ainda temos que trabalhar muito no que se refere aos prestadores de serviço dos setores de hotelaria e transporte. Cheguei a ver recepcionistas jovens que arriscavam e até conseguiam travar diálogos em Inglês, mas, como não estavam o tempo todo í  disposição, o hóspede estrangeiro acabava passando por algumas saias justas (principalmente com taxistas, com os quais precisavam “se virar nos trinta” e recorrer a outras alternativas para se comunicarem, como roteiros em português que gravavam e utilizavam na hora de se deslocar pela cidade).

Resultado: ficamos aquém na questão idioma.

Torcida

Os torcedores brasileiros não estão acostumados a chegar com antecedência ao estádio e parecem incapazes de compreender o que o ingresso identifica como seus respectivos assentos.

Um verdadeiro desafio para organizadores e patrocinadores (para os próprios torcedores inclusive) seria instruí­-los a comparecer no horário do evento, a não trazer alimentos de casa e a entender a quais áreas eles de fato têm acesso.

Além disso, o torcedor precisa gerenciar melhor suas idas ao banheiro e/ou lanchonetes, o que, para o organizador de eventos, também vale como exercí­cio de planejamento estratégico.

Segurança

Os profissionais que trabalham na segurança interna dos estádios nos grandes eventos internacionais, conhecidos como stewards, continuam com o antigo espí­rito de seguranças. í‰ preciso de mais treinamento, de mais informação e de que eles estejam a par dos jogos a serem assistidos. Eles também devem ser apoiados com água e alimentação (í s vezes, ficavam abandonados em suas funções) – idem para os voluntários.

A parte boa é que estavam sempre sorrindo :)

Imprensa

Mega-eventos trazem holofotes de uma imprensa ávida por pautas, portanto manifestos, depoimentos e eventuais falhas acabam atraindo muita atenção. Ao trabalhar a logí­stica dos jogos temos sempre de prever manifestações que possam afetar o acesso e/ou as entregas.

Repertório cultural

Em eventos desse porte, toda uma leva de profissionais de diferentes localidades do globo se encontra e precisa articular diferentes hábitos e práticas culturais. Mais do que falarmos o idioma de cada um ou o inglês, é importantã­ssimo que entendamos um pouco mais sobre eles – passando aí­ por costumes, religião e até mesmo palavrões. Esse repertório melhora muito o conví­vio, além de evitar problemas (isso quando não soluciona!).

A arte de receber

Servir é a arte de receber.

O cliente – seja ele autoridade, mí­dia, corporação, torcedor nacional ou estrangeiro – não quer saber de dificuldades como dor no pé, calor, cansaço, falta de informação, falta de liderança, etc.; sua expectativa é de que os serviços sejam executados e entregues impecavelmente. Esse é o desafio mais importante, pois até mesmo o brasileiro mais apaixonado pelo esporte, na hora do trabalho deve focar a atenção em qualquer que seja sua atribuição e deixar de lado o quanto gostaria de tirar fotos ou pegar autógrafos: mais ação, menos curtição (mas que desafio incutir essa ideia na cabeça das pessoas, meu Deus!).

Patrocí­nios

Cada vez mais, as marcas estão aprendendo o quão importantes são os patrocí­nios, com destaque para as cidades-sede que induziram esse espí­rito em seus cidadãos (quem esteve por lá certamente viu essa atmosfera de boas vindas).

Enfim, acho que o jargão “imagina na Copa” já pode incorporar a palavra “melhor”. Eu, pelo menos, imagino uma Copa melhor. Ok, nós tivemos muitos erros e falhas, sim; mas o saldo é positivo (tanto é que os estádios e a potencialidade das arenas são uma grande aposta para o mercado de eventos).

Imagino sim uma Copa mais estruturada, melhor elaborada, organizada e (quem sabe?), mais alegre – só queria que fosse menos cara também. Por isso, agora é hora de fazer acontecer: afinal, o jogo não está ganho, embora estejamos em vantagem.

E que a goleada venha em 2014!

Estádio Castelão em Fortaleza, Ceará. Cenário da Copa das Confederações 2013.

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