O Dia da Mulher, celebrado em 8 de março, é uma data que representa a lutas das mulheres por empoderamento e igualdade. Ela foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975.
Sua origem é na luta das mulheres que trabalharam em fábricas nos Estados Unidos, que exigiam melhores condições de trabalho. Mas com o passar do tempo, a data passou a ser adotada também pelo comércio e pelas marcas.
É muito comum vermos campanhas no mês de março, focadas no público feminino. Uma das ações de live marketing mais tradicionais é a distribuição de rosas e outros mimos considerados “femininos”.
Além disso, muitos comércios aproveitam para lançar promoções que, em muitos casos, só mostram que muita gente ainda não entende a data.
Afinal de contas, dar descontos em anticoncepcionais e fraldas no Mês da Mulher, vai totalmente contra a ideia da celebração.
Márcia Saad, que é diretora na Fotossíntese Consultoria, especialista em shopping center e varejo e colunista do Promoview, explica que esse é um erro recorrente entre muitas marcas. Várias esquecem da real origem da data, que é a luta pelos direitos das mulheres.
Segundo a executiva, esse ideal precisa estar na cultura organizacional das empresas, refletindo em outras ações, e, não apenas nas estratégias do dia 8 de março.
Márcia Saad, diretora na Fotossintese Consultoria (Foto: Divulgação).
“Não cabe aqui oportunismo e nem modismo, ou ações que não carreguem significado alinhado com cultura e propósito.”, explica Márcia.
“O que tenho pouco visto, e acredito ser um bom caminho para as marcas é, ao invés de colocar a figura de uma mulher como protagonista, é aproveitar essa data para conscientizar, informar e educar os homens. É uma perspectiva única para que eles compreendam o universo feminino.”
É preciso trabalhar as estratégias de mulher com abordagens que realmente reflitam o debate que a data representa, levando em consideração diversos temas. Desde a desigualdade no mercado de trabalho, até as mudanças comportamentais.
Antes de tudo, respeito à integridade
A preocupação com o respeito e a integridade das mulheres é um tema central que não pode ficar de lado e precisa ser destacado em datas como a de hoje.
A opinião é de Fabiana Schaeffer, CEO da Netza e founder da Circle Aceleradora que, desde 2020 apoia a Coalizão Empresarial pelo fim da Violência contra as Mulheres e Meninas, uma iniciativa colaborativa de mobilização coordenada pela Fundação Dom Cabral, com apoio de grandes marcas e que tem como objetivo engajar os líderes do setor privado e garantir o compromisso voluntário pelo fim da violência contra meninas e mulheres.
Fabiana Schaeffer CEO da Circle (Foto: Divulgação).
“O que importa aqui não é classe social ou idade, é o quanto a história dessa mulher serve de inspiração e tem o poder de sensibilizar e transformar outras mulheres. Estamos superengajados nessa ação, porque ela está alinhada com a nossa missão de protagonismo, apoio e transformação por um mundo melhor.”, conta Fabiana.
As mudanças no comportamento de consumo das mulheres
Ao longo dos anos é possível notar várias mudanças no comportamento de consumo das mulheres. De acordo com uma pesquisa da SPC, 65% das mulheres já mudaram seus hábitos de compra por causa das redes sociais.
O público feminino tem demonstrado cada vez mais interesse em artigos tecnológicos, esportes, tecnologias e outros segmentos que antes eram considerados majoritariamente de homens.
Além disso, de acordo com Daniela Cachich, VP de Marketing na PepsiCo Brasil, as mulheres estão mais conscientes em relação às ações e publicidades focadas no público feminino. Elas não querem mais comerciais e ativações que ressaltem estereótipos e pensamentos arcaicos.
Daniela Cachich, VP de Marketing na PepsiCo Brasil (Foto: Victor Affaro).
“Percebemos que as consumidoras estão cada vez mais atentas e críticas na forma como o gênero é retratado na publicidade, sem estereótipos, buscando marcas que traduzam isso de forma genuína.”, afirma a executiva.
No entanto, boa parte do mercado não acompanhou essa mudança no comportamento do público feminino.
Segundo Líbia Macedo, apaixonada por esporte, professora e gestora de eventos e colunista do Promoview, muitas marcas ainda não associam determinados assuntos e segmentos às mulheres. Ela cita como exemplo a área de esportes.
“Marcas ainda utilizam o ‘conteúdo’ de esporte muito focado em público masculino e reforçam isso por intermédio de sua publicidade, seus embaixadores e premiações de promoção.”, explica Líbia.
Ela salienta que o público feminino ainda não é considerado fã de esporte, o que é um erro, uma vez que cada vez mais as mulheres têm entrado nesse segmento. Prova disso é o aumento de interesse na modalidade futebol pelas mulheres.
Segundo a gestora de eventos, nas duas últimas Copas do Mundo o alcance da transmissão de TV do evento esportivo cresceu 26% entre as mulheres, no Brasil.
Líbia Macedo, apaixonada por esporte, professora e gestora de eventos (Foto: Reprodução).
“Outro ponto é realmente considerar o esporte feminino como plataforma de patrocínio, considerando os pilares das diferentes modalidades, as qualidades e perfis das atletas, e, por favor, abandonando de vez o apelo estereotipado de aparência e considerando a performance e a postura delas.”, salienta Libia.
“A mulherada tá no jogo e muita marca ainda não viu isso!!!”, reforça a executiva.
Ou seja, muitas marcas ainda estão presas “ao tradicional” que muitas vezes reforça estereótipos. Com isso, elas não estão apenas se afastando do público feminino, como perdendo grandes oportunidades de se fortalecerem no mercado.
A representatividade para além de uma data
Apesar de muitas marcas estarem presas ao tradicional, reduzindo a data a algo que não é sua essência, há muita gente que entendeu que o Dia da Mulher é para ressaltar a busca por direitos iguais das mulheres.
Mais do que isso, que as ações não devem se resumir ao dia 8 de março. A luta por igualdade precisa estar presente no dia a dia de qualquer empresa.
A PepsiCo, por exemplo, sabe que a representatividade feminina é uma grande ferramenta de crescimento sustentável de negócio. Por isso, a companhia investe em programas focados em talentos femininos.
Em entrevista ao Promoview, Daniela Cachich, VP de Marketing na PepsiCo Brasil, explica que uma das marcas do grupo que traduz essa valorização e reconhecimento da potência das mulheres é a eQlibri.
“Por meio do marketing de propósito, defendemos as mulheres em sua diversidade, incentivamos a libertação de padrões impostos pela sociedade e temos parcerias com instituto Free Free e Plano de Menina que impactam positivamente meninas e mulheres em vulnerabilidade.”, explica a executiva.
A executiva dá como exemplo o lançamento da Pipoca eQlibri e da campanha “Estoure-se” que convidou as consumidoras a se transformarem – assim como os grãozinhos de milho – , colocando para fora o que elas têm de melhor.
Daniela ressalta, ainda, que a eQlibri não se baseia apenas no dia 8 de março para promover o empoderamento feminino. Na verdade, a marca tem uma agenda anual de ações e discussões.
Além disso, a marca também foca na promoção de conversas ao lado de suas embaixadoras, Vivi Duarte, Yasmine Sterea e Jojoca.
É esse tipo de exemplo que outras marcas precisam seguir!
Mulheres e o mercado de trabalho
Outro ponto importante que precisa ser abordado é que o Dia da Mulher precisa ressaltar aspectos que ainda precisam ser melhorados na sociedade. É o caso da desigualdade no mercado de trabalho.
De acordo com uma pesquisa feita pela InfoJobs, cerca de 51,1% das mulheres já enfrentaram preconceito no mercado de trabalho.
Além disso, 73,7% das entrevistadas sentem que precisam ser mais qualificadas do que os homens para ter uma oportunidade de cargo de liderança.
Ou seja, apesar de todos os avanços na causa, a desigualdade no mercado de trabalho, principalmente no que diz respeito aos cargos de liderança, ainda é grande. E esse é um ponto que precisa ser trabalhado pelas empresas.
Claudia Lorenz, sócia-fundadora da um.a #diversidadeCriativa, que atua há anos no segmento de live marketing, fala mais sobre esse desafio de trazer igualdade para o mercado de trabalho.
Claudia Lorenz, sócia-fundadora da um.a #diversidadeCriativa (Foto: Divulgação).
“Nestes tempos tão desafiadores de pandemia, ter papel de líder mulher nas empresas é de muita responsabilidade, mas também de um grande privilégio.”, afirma a executiva.
“Privilégio porque é para pouquíssimas mulheres, então, torna-se ainda maior a minha responsabilidade, pois lidero uma empresa de live marketing, um mercado tão volátil, em um país como o Brasil que ainda engatinha na equidade de gêneros nas lideranças.”, explica Claudia.
A um.a é referência em questão de diversidade, sempre valorizando a pluralidade no ambiente de trabalho. A agência sempre busca criar um local que valorize os colaboradores pelos seus talentos.
Para isso, é preciso ter mais confiança nas relações interpessoais, acreditando na capacidade de transformação das equipes.
A um.a está constantemente buscando a equidade de gêneros no ambiente corporativo, não apenas para “seguir moda” mas para realmente ter a diversidade como parte da cultura organizacional, se preparando assim para os desafios da sociedade, e servir de exemplo para o mercado.
Muito além das rosas
A verdade é que o Dia da Mulher, hoje, engloba muitos temas. Desde a luta pelos direitos das mulheres, até mudanças de consumo.
Mas, apesar disso, muitas marcas ainda se prendem a ações obsoletas, que em nada atingem as mulheres, e, pior, ficam presas à data comemorativa, sem levar isso para os outros dias do ano.
A grande maioria não possui um calendário independente de ações, que mostre a real preocupação em ter essa discussão como pilar. Isso só mostra que o Dia da Mulher, para muitas empresas, é apenas uma data comercial para “tentar fazer bonito”.
É preciso acompanhar as mudanças, e, mais do que isso, valorizar a data em sua essência. Ou seja, o empoderamento feminino, e a busca por igualdade!
Esperamos que os bons exemplos de marcas, profissionais e entidades que mostramos aqui possam inspirar outras empresas e a sociedade de modo geral a entrar nessa luta!