“O que você quer ser quando crescer?”
Na célebre pergunta que se faz às crianças ou adolescentes em fase de ingressar na universidade, não era muito comum a resposta “Quero ser organizador de eventos”.
Isso se deve ao fato desse setor não ser um setor propriamente dito. Eventos eram realizados pelas secretárias, ou pela madame que manja de menu e etiqueta, possivelmente pelo maluco beleza artista que criava festinhas para tocar ou até mesmo o apaixonado atleta que queria reunir pares para competir, enfim, é de pouco tempo a estruturação e o reconhecimento do profissional de eventos, que mesmo oriundo de áreas como Secretariado, Relações Públicas, Administração e Publicidade, hoje tem em seus cursos uma maior atenção à área, com cursos de tecnólogo à Pós-graduação, sem contar os programas livres que embasam essa carreira nomeada como Meeting Planner lá fora e aqui o Gestor de Eventos.
Nessa evolução da área, muitas mudanças de ações e de quem gerencia o operacional vieram acontecendo.
Antigamente, casamentos eram organizados pela mãe da noiva, irmãs mais velhas, tias e primas de plantão. Com o passar do tempo e a vida agitada, noivos precisam de um assessor de casamento que atenda desde o dia que você decidiu casar ou somente no grande dia com uma assessoria pontual.
Isso tudo considerando o estilo da dupla que pode ser baladeiro, tradicional, despojado e até mesmo minimalista, como os atuais elopment wedding*. Ainda na área social, os tradicionais bailes de debutantes nos clubes sociais que apresentavam a garota de 15 anos à sociedade, hoje são grandes produções, e, na verdade, é a “primeira” balada com muita pompa, mesmo tendo a conhecida valsa, logo na sequência a música eletrônica e o funk aparecem animando a festa.
Os eventos esportivos eram competições organizadas pelas confederações que representavam as modalidades, ou feitas pelas agremiações-clubes. Estas continuam atuando nos eventos, mas hoje existe a figura das agências de marketing esportivo que auxiliam essas entidades no fomento dos esportes e encontram sinergias de marcas que querem se associar ao bem-estar, atividade física, o lifestyle, impresso pelas diversas modalidades (surf, corrida, skate, ciclismo, vôlei, entre outras) e aqui os organizadores de eventos esportivos têm que dominar as especificidades dos esportes, criar ambientes de contato para as marcas e fazer com que esse produto seja interessante para as mídias (sem descaracterizar o produto e respeitando as regras) e também proporcionar experiências e entretenimento aos espectadores – presenciais e virtuais. Ufa!
Na área cultural, se muito de vez em quando recebíamos exposições de fora e algumas grandes bandas, hoje somos parte integrante das turnês de artistas e de mostras de diversas obras e acervos.
Os shows, com suas produções incríveis de palco e cenários, encantam cada vez mais e os fãs, antes apenas contemplativos, e, até mesmo passivos, hoje interagem, seja por meio da oportunidade de acompanhar o show em diversos ângulos (lembram do palco U-2 em 2009 palco 360?), seja votando as músicas que vão compor o repertório do show ou a possibilidade dos meet&greet, passagens de som privadas ou até mesmo os espectadores compondo o cenário do espetáculo, como o show do Arcade Fire num Coachella (Veja aqui).
Isso tudo é desafiante para os produtores que têm que alinhar ideias, fios, tecnologia e novos comportamentos.
No âmbito corporativo, os eventos ganharam dimensão maior e parte integrante do cotidiano e crescimento das empresas. Antes confiados às secretárias – que ainda muito se envolvem com esta área, mas hoje existem departamentos internos de eventos, que muitas vezes sem apoio de agências desenham, cotam e produzem as ações de eventos, mas em muitos casos a agência de comunicação é acionada.
As feiras e seus estandes enormes e cheio de arquitetura, atualmente são estandes pockets, mas sem deixar de ter uma assinatura institucional e tematicamente representar seus produtos/serviços num importante ponto de contato com seus visitantes, sem contar as feiras que têm muito mais de festival do que qualquer coisa, como a Campus Party, ComicCon, Adventure Fair entre outras, que literalmente são a representação do live marketing na veia.
Nas ações internas, as convenções de vendas eram de muitos dias e na agenda podia existir um dia livre para o lazer, atualmente bem mais enxutas com 3 dias no máximo, programação focada em relatórios/treinamento, próximos passos, uma possível fala motivacional, podendo ter algo de team building, com sorte.
Desafio para o profissional de eventos em encontrar espaços eficientes, pensar em atrações e conteúdo que se encaixem em agenda diminuta, sem deixar de ser impactante e inovador – lembrando que todo ano acontece, portanto, sempre com a expectativa do diferente.
O gestor de eventos, faz tempo deixou de ser o organizador de festinhas, ou ajudante do setor de marketing, ele virou Pensador de Eventos, que elabora as ações de maneira estratégica, saindo de mera ferramenta de comunicação para ser linguagem que expressa o branding, o valor de produtos/serviços, demonstra engajamento com causas, cria relacionamento e encanta os participantes.
E nessa ciência de detalhes, precisamos profissionais que devem observar como o consumidor/participante vê o acontecimento e trabalhar na gestão desses desejos que às vezes manifestam-se de forma implícita.
Acompanhar esse mundo cheio de informações, não é tarefa fácil para ninguém, ainda mais com as gerações abecedário que temos hoje em dia**, mas o gestor de eventos, tem que estar antenado nos perfis dos vários públicos, imbuído de uma pitada de ousadia nos projetos, demonstrar emoção claramente em suas propostas, deve ser cooperativo e adaptado num papo que se adeque do marceneiro ao CEO da empresa, ter o DNA genuíno do servir e arranjar uma brecha para frequentar eventos, pois assim ela “respira” essa atmosfera e se inspirar constantemente.
Não é tarefa fácil trabalhar com eventos hoje em dia, talvez por isso a figura abaixo aconteça.
*https://pt.wikipedia.org/wiki/Elopement_Wedding
**Sugiro o livro do Bial e Cortela – Gerações em ebulição.