Quando o trabalho e prazer se transformam em experiência de vida.
Após vinte e cinco anos de experiência como Professora de Educação Física e tendo trabalhado nos mais diversos setores que esta carreira abrange, resolvi apostar em uma nova, porém, não desconhecida atividade, e aproveitar o conhecimento técnico adquirido ao longo desses anos para me relançar no ramo de eventos esportivos.
Até 2010 tudo o que estava por acontecer no Brasil parecia muito promissor e distante, e foi então que voltei aos bancos escolares e me especializei em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos. Encontrei no voluntariado a forma de aplicar os mais recentes conhecimentos e formar uma nova rede de contatos, o que possivelmente abriria portas para ingresso neste mercado de trabalho.
O melhor é que gostei da ideia e apesar de muita gente achar que “trabalho voluntário é coisa de otário”, tenho vivido experiências únicas e conhecido pessoas incríveis pelos caminhos da vida, o que só faz com que me sinta útil e feliz. Como Voluntária (sempre com V Maiúsculo) em eventos internacionais em nosso país, hoje, depois de cinco anos, estou em Toronto, Canadá, como voluntária dos Jogos Panamericanos de 2015, vivendo esta experiência não só encantadora, como mágica!
Vou contar para vocês, então, um pouco de como é isso:
Posso dizer que já estou me tornando “PHD” em voluntariado pois participei do Campeonato Mundial de Handebol na Arena Ibirapuera, Copa das Confederações FIFA em Brasília e Copa do Mundo FIFA na Arena São Paulo. Hoje participo de um grupo de apoio a gestantes carentes, sou Diretora de Eventos da Federação Paulista de Handebol e já estou trabalhando com os Voluntários Selecionadores da Rio 2016.
Em cada um destes eventos exerci funções distintas, o que muito têm contribuído para o desenvolvimento de novas habilidades. Para todos os eventos internacionais temos que passar por processos de seleção e treinamentos, daí a importância de se ter um bom nível de formação geral pois, na maioria das vezes, isso é o que determina seu posto de trabalho.
Um ponto crucial a ser explorado é a fluência em idiomas. Apesar de ler e escrever bem em inglês, meu nível de conversação era sofrível pois tendo problemas de audição. Para mim era muito difícil a distinção de alguns sons e, com isso, o entendimento de muitas palavras. Tomei a providência de colocar um aparelho auditivo, voltei a praticar com mais frequência o inglês e comecei a estudar espanhol, já visando os Jogos Panamericanos de Toronto e Olímpicos do Rio.
Para chegar a este Pan, tive alguns momentos “up, down, in, out, over“. Ou seja, aconteceu de tudo e se não fosse por persistência, determinação e muita, mas muita força por parte de meus familiares, talvez não estivesse aqui agora.
Começando pela seleção. Como sempre, nos inscrevemos no site da organização oficial do evento aproximadamente um ano antes do seu início. A partir deste momento e com o processo iniciado, começamos a receber mensagens com instruções de todas as etapas a serem vencidas.
Depois de selecionado, começam os treinamentos online, com entrevistas presenciais ou não (para Toronto foi uma entrevista gravada em inglês) e mais cursos específicos com testes para que possamos ser alocados em uma das áreas para as quais nos aplicamos.
Depois de todo este processo, recebemos um convite a ser aceito ou não, com o cargo a desempenhar, e posteriormente a escala de trabalho. No meu caso específico, foi a primeira crise de “out” por que passei: assim que recebi o e-mail dizendo que seria “Team Host – Handball Crew” , vibrei muito porque esta função me deixaria mais uma vez, próxima aos atletas, no local de competição, posto exatamente para o qual me candidatei em primeira opção e vinha me preparando para exercer.
O passo seguinte, já seria mais decisivo porque, uma vez aceito o trabalho, começaria a etapa de planejamento, solicitação de visto canadense e gastos financeiros.
Na maioria dos eventos o voluntário recebe apenas o uniforme, alimentação durante a escala de trabalho e transporte local. Desta forma, comprei minha passagem aérea internacional com seis meses de antecedência porque usaria milhagens do cartão de crédito e precisaria garantir os voos de ida e volta, uma vez que o Pan coincidiria com as férias escolares no Brasil.
Além disso, teria que reservar alguns dias para treinamento presencial que sempre antecedem os inícios de trabalho no local do evento. Também comecei a procurar hospedagem e assegurei um quarto em um Hostel, com possibilidade de cancelamento sem cobrança de taxa para o de caso conseguir algo melhor e mais barato.
Passados alguns meses, recebi um e-mail alterando minha função para algo que nem de perto passava por minha cabeça, “Technology – Time and Results Associates Crew – Handball“, ou seja, fazer estatística de jogo de handebol. Tentei falar na organização por diversas vezes para reverter a situação, mas foi impossível. Foi então que resolvi parar tudo e cancelar todos os planos. Nesta hora, vem uma mistura de decepção com desânimo, não querendo desmerecer a disciplina estatística, mas porque pareceu que tudo o que vinha dando tão certo havia sido jogado pelos ares.
Aí entra a importância do “backstage” familiar: meu marido e filhos dando a maior força para eu não desistir, que tudo daria certo e que seria uma nova e gratificante experiência. (Será que eles queriam férias de mim?)
E aqui estou, em Toronto, nos Pan Am Games 2015. Curtindo tudo a milhão.
Na próxima semana vou lhes contar como foi a segunda parte deste desafio maravilhoso.
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